A hansenĂase é doença crônica e infecciosa, causada pela bactéria Mycobacterium Leprae, também conhecida como bacilo de Hansen. Uma das 20 doenças tropicais negligenciadas, segundo classificação da Organização Mundial da SaĂșde (OMS), a hansenĂase é tema do Caminhos da Reportagem. O programa vai ao ar neste domingo (8), às 22h, na TV Brasil.
O médico infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda explica que as doenças negligenciadas atingem a parcela mais pobre da população e, geralmente, se encontram no hemisfério Sul do planeta, onde a pobreza é determinante importante para essas doenças. Para elas, hĂĄ pouco tratamento disponĂvel e pouco interesse da indĂșstria farmacĂȘutica.
Segundo a médica infectologista Giovana Volpato Pazin Feuser, as principais caracterĂsticas da hansenĂase são surgimento de lesões na pele, geralmente avermelhadas, e alteração de sensibilidade. A primeira sensibilidade que as pessoas costumam perder é a térmica, ou seja, deixam de sentir calor e frio no local, e por Ășltimo a sensibilidade tĂĄtil. Assim, a doença afeta a pele e os nervos periféricos, o que pode causar incapacidades e deformidades fĂsicas.
Uma das dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem com hansenĂase é justamente o preconceito e o estigma. A transmissão se dĂĄ apenas de uma pessoa doente, sem tratamento, para outra, após contato próximo e prolongado. A doença tem cura, e o tratamento é disponibilizado pelo Sistema Ănico de SaĂșde (SUS).
Durante muitos anos, as pessoas com hansenĂase foram isoladas do convĂvio com a sociedade e levadas para viver em colônias. Criada na década de 40, a colônia Antônio Aleixo recebia pacientes de vĂĄrias partes do estado do Amazonas. O local chegou a abrigar 2 mil pessoas infectadas. Com o passar do tempo, a colônia foi se transformando em bairro, onde os familiares dos pacientes também passaram a viver.
A aposentada Teresinha Maia da Silva chegou à colônia ainda na adolescĂȘncia. JĂĄ são 50 anos vivendo no local. Ela chegou a buscar a famĂlia, mas não encontrou apoio. Pelo contrĂĄrio, conta que foi recebida com preconceito. "Procurei minha famĂlia, mas não me dei bem por causa da do preconceito. O meu próprio irmão, eu me sentei no banco, aĂ ele me deixou sentar, nós conversamos, quando terminou ele jogou ĂĄlcool e ainda limpou o banco. Era um preconceito horrĂvel", lembra.
Em alguns tipos de hansenĂase, não hĂĄ o aparecimento de manchas pelo corpo. A doença pode atacar diretamente os nervos. Foi o que aconteceu com o militar reformado FĂĄbio Correia, que começou a apresentar os primeiros sintomas hĂĄ cinco anos. Ele estava perdendo a força nas pernas e sentia muita dor. Recebeu o diagnóstico correto em CuiabĂĄ e faz acompanhamento no Hospital UniversitĂĄrio JĂșlio MĂŒller, centro de referĂȘncia do SUS ligado à Universidade Federal de Mato Grosso. A famĂlia é a sua maior fonte de força no tratamento e para lidar com o preconceito. "A medicação mais importante que hĂĄ no tratamento é a famĂlia. E tem cura. Eu estou vencendo, todos também vão vencer com esse acompanhamento que estou tendo", disse FĂĄbio.
A equipe do Caminhos da Reportagem esteve em Mato Grosso e no Amazonas e vai contar histórias de quem vive com a doença e enfrenta preconceitos. Vai falar também dos desafios para o melhor cuidado dessas pessoas e os novos testes complementares para o diagnóstico da hansenĂase, que estão sendo fornecidos pelo Ministério da SaĂșde.
Fonte: AgĂȘncia Brasil