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Estudo busca identificar tratamento gênico para Síndrome de Pitt-Hopki

Por Voz na Comunidade em 08/05/2022 às 21:59:50

Fabio Papes, professor do Instituto de Biologia da Unicamp - Fulvia DIPillo/Direitos reservados

Durante essa fase de estudo, Papes e os demais pesquisadores buscaram criar e testar uma terapia gĂȘnica que pudesse reverter os efeitos provocados pela mutação no gene TCF4. E, no laboratório, os testes foram promissores.

"A terapia gĂȘnica pode ser feita de vĂĄrias formas. VocĂȘ pode simplesmente substituir o gene problemĂĄtico tirando aquele gene por um que funciona de forma apropriada. No caso dessa doença, isso não é possĂ­vel porque o gene é muito grande. No nosso trabalho, abordamos a terapia gĂȘnica de outras duas formas. Em uma delas, introduzimos um terceiro gene dentro das células do indivĂ­duo doente. Todas as nossas células possuem duas cópias de cada gene, inclusive desse gene TF4: uma cópia que herdamos do pai e outra que herdamos da mãe. Nos pacientes com essa sĂ­ndrome, uma das cópias não funciona direito. Para compensar essa cópia que não funciona muito bem nós, pesquisadores, introduzimos nas células uma terceira cópia, normal, funcional, para compensar pelo gene que dentro das células não funciona muito bem", observou.

Papes disse que os cientistas também testaram uma outra estratégia em laboratório para tentar reverter os efeitos da mutação: eles utilizaram a técnica chamada CRISPR-Cas9, cujas criadoras ganharam o PrĂȘmio Nobel de QuĂ­mica em 2020. "Nós, pesquisadores, fizemos com que a cópia boa que estĂĄ presente nas células, a que funciona normalmente, tenha mais atividade", disse.

Para explicar o que aconteceu nessa estratégia, ele comparou os dois genes com duas velas. "É como se uma pessoa tivesse, em uma célula qualquer, duas velas acesas lĂĄ dentro. No paciente com a sĂ­ndrome, existe só uma velinha acesa. O que fizemos foi fazer com que essa vela, que estava acesa, queimasse duas vezes mais rĂĄpido. A atividade do gene passa a ser maior do que o gene normal. Então ele compensaria a falta de atividade do gene que é defeituoso dentro da célula do paciente", exemplificou.

Ao final dos experimentos, as duas técnicas utilizadas pelos cientistas (a de introdução de um terceiro gene e a do CRISPR) deram resultados semelhantes. "Tudo igualzinho, com o mesmo tipo de resultado. E agora os testes clĂ­nicos é que vão determinar qual das duas abordagens serĂĄ efetiva para ser empregada em pessoas".

Testes clĂ­nicos

Apesar dos resultados promissores em laboratório, a pesquisa ainda precisa passar por novos testes, os chamados testes clĂ­nicos, quando passarĂĄ a ser aplicada em voluntĂĄrios humanos. Essa etapa, segundo Papes, pode demorar ainda entre cinco ou dez anos para começar a dar resultados. Uma empresa dos Estados Unidos, a Ultragenics, jĂĄ licenciou o projeto e ficarĂĄ responsĂĄvel por essa etapa de estudos, que ainda não tem data para serem iniciados. A previsão é que a fase clĂ­nica seja aplicada em diversos paĂ­ses, entre eles, o Brasil.

Em entrevista à AgĂȘncia Brasil e à RĂĄdio Nacional, o pesquisador disse que os resultados devem ajudar também no tratamento de outros transtornos tais como a esquizofrenia, o estresse pós-traumĂĄtico e o transtorno bipolar. "Pacientes dessas outras enfermidades possuem mutações no mesmo gene e, eventualmente, poderão ser beneficiados da mesma terapia", falou.

Terapia gĂȘnica no Brasil

A terapia gĂȘnica começou a ser aplicada no Brasil em fevereiro deste ano, contra a leucemia, quando foi aprovada pela AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa). Essa terapia pode custar até 475 mil dólares. No câmbio atual, isso equivaleria a mais de R$ 2 milhões. Mas, segundo Papes, até que o estudo esteja concluĂ­do, o preço das terapias gĂȘnicas devem custar bem menos. Ele espera também que esse tipo de tratamento possa ser utilizado no Sistema Único de SaĂșde (SUS).

O estudo foi publicado na revista Nature Communications e é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento CientĂ­fico e Tecnológico (CNPq).

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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