Os dados, que refletem a expansão do ensino a distância no Brasil, fazem parte dos resultados do Censo da Educação Superior 2021, divulgados hoje (4) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais AnĂsio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC).
"O comparativo confirma a tendĂȘncia de crescimento do ensino a distância ao longo do tempo. Em 2019, pela primeira vez na história, o nĂșmero de ingressantes em EaD ultrapassou o de estudantes que iniciaram a graduação presencial, no caso das instituições privadas", explicou o Inep.
O diretor da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC, Vandir Cassiano, disse que de 2017 para cĂĄ esse crescimento foi mais expressivo e, diante do cenĂĄrio da pandemia da covid-19, os nĂșmeros da EaD alavancaram.
"Em 2020, 2021 e, agora, 2022, temos um crescimento absurdo, é algo jĂĄ sedimentado, é um caminho sem volta", disse, alertando para a necessidade de avaliação da qualidade desse ensino.
"Estamos vendo isso [qualidade] com muito cuidado, porque temos instituições que anunciam curso de EaD no valor de R$ 59,90, uma mensalidade muito baixa. Até que ponto esse curso oferece uma formação adequada para o mercado de trabalho e que venha a fazer parte do contexto social e econômico do paĂs? A secretaria estĂĄ com um trabalho de verificação desses polos de EaD, para fazer o tratamento desses polos autorizados", explicou.
O censo de 2021 registrou 2.574 instituições de educação superior. Dessas, 2.261 (87,68%) eram privadas e 313 (12,2%), pĂșblicas. Nesse contexto, a rede privada ofertou 96,4% das vagas. JĂĄ a rede pĂșblica foi responsĂĄvel por 3,6% das ofertas.
O nĂșmero de matrĂculas também seguiu a tendĂȘncia de crescimento dos Ășltimos anos e chegou a 8.987.120. As instituições privadas concentraram 76,9% dos matriculados e as pĂșblicas registraram 23,1%. Entre 2011 e 2021, o percentual de estudantes matriculados na educação superior aumentou 32,8%, o que corresponde a uma média de 2,9% ao ano.
Segundo o Inep, na relação entre matrĂcula e modalidade de ensino, a expansão da EaD ficou, mais uma vez, evidenciada. Em 2021, foram mais de 3,7 milhões de matriculados em cursos a distância. O nĂșmero representa 41,4% do total. Na série histórica destacada pela pesquisa (2011 a 2021), o percentual de matriculados em EaD aumentou 274,3%, enquanto, nos presenciais, houve queda de 8,3%.
Um olhar na relação de ingressos em cursos de graduação a distância e presenciais, nos cursos de licenciatura houve uma queda de 12,8% de 2020 a 2021 na modalidade presencial. Dos estudantes matriculados em cursos de licenciatura, 61% frequentam curso à distância. Em relação ao nĂșmero de ingressantes, 77% dos estudantes em licenciatura optaram por cursos EaD.
O presidente do Inep, Carlos Moreno, disse que os resultados do censo apontam, de forma concreta, para qual direção caminha a educação superior brasileira e demandam reflexões sobre modelos e polĂticas educacionais.
"O futuro professor, que vai atuar na educação bĂĄsica no Brasil, ele vai ter passado por uma formação à distância. Então, esse é um ponto muito importante para que se analise a adequação dessa estratégia [de avanço dessa modalidade de ensino]", alertou.
Na avaliação de Moreno, no caso da formação de docentes, a modalidade a distância pode ser muito eficiente quando o profissional jĂĄ teve a formação inicial e adquiriu experiĂȘncia na prĂĄtica pedagógica. Para ele, entretanto, hĂĄ aspectos positivos na expansão da EaD, como o aumento no nĂșmero de alunos em cursos de graduação e a possibilidade de educação superior ser cursada em todo o território nacional "desde que seja de qualidade".
De 2020 a 2021, houve uma redução de 4 pontos percentuais na demanda por cursos de formação de professores, de 19% para 15% das vagas. Dos 3.922.897 estudantes que ingressaram no ensino superior em 2021, 55% preferiram bacharelado, 30% cursos tecnológicos e 15% licenciatura. Na rede federal de ensino, a média é maior, 26% dos estudantes frequentam cursos de licenciatura.
Das 1.648.328 matrĂculas nos cursos de licenciatura em 2021, 35,6% foram registradas em instituições pĂșblicas e 64,4%, em privadas. Mais de 80% dos estudantes de licenciatura de instituições pĂșblicas frequentam cursos presenciais. Na rede privada, prevalece os cursos a distância, com quase 85% dos alunos.
Dentre os cursos de licenciatura, prevalece o curso de Pedagogia com quase a metade dos alunos matriculados (47,8%) ou quase 800 mil alunos.
De acordo com o secretĂĄrio de Educação BĂĄsica do MEC, Mauro Rabelo, estudo recente aponta para uma falta de professores para atuar na educação bĂĄsica a partir de 2040. "Vamos estabelecer novas metas para o Plano Nacional de Educação, as atuais se encerram em 2024, temos uma ConferĂȘncia Nacional de Educação em andamento, que vai dar subsĂdio para isso. Os dados do censo, então, são de uma riqueza tremenda, é a nossa base cientĂfica governamental, do Estado brasileiro, para tomada de decisão futura", disse.
O objetivo do Censo da Educação Superior é oferecer informações detalhadas sobre a situação e as tendĂȘncias da educação superior brasileira, assim como guiar as polĂticas pĂșblicas do setor. Após a divulgação, as informações passam a figurar como dados oficiais do nĂvel educacional.
Além de subsidiar a formulação, o monitoramento e a avaliação de polĂticas pĂșblicas da educação superior, o censo contribui para o cĂĄlculo de indicadores de qualidade, como o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e o Ăndice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC).
Os resultados da pesquisa de 2021 estão disponĂveis no site do Inep.
Fonte: AgĂȘncia Brasil