No dia 27 de junho de 2023, o vereador de Maceió Joãozinho Gabriel visitou o Mercado Público do Benedito Bentes, o maior bairro da capital de Alagoas, com mais de 200 mil habitantes. No dia seguinte, relatou em discurso na tribuna da Câmara Municipal o que viu durante a fiscalização.
"A situação era muito pior do que eu imaginava", disse em seu discurso. A visita ocorreu seis meses após o desabamento do teto do mercado, em 31 de dezembro de 2022.
Nessa terça-feira, 2 de janeiro, um ano depois, a situação estava ainda mais precária, de acordo com reportagem feita no local. Os feirantes e permissionários que trabalham no mercado continuam à espera da reforma prometida pela prefeitura de Maceió.
"Tendas de Ouro"
Em janeiro de 2022, antes do desabamento, a prefeitura alocou feirantes na área externa do mercado em 16 tendas. Após o desabamento, outras 6 tendas foram alugadas para atender os permissionários que ficaram sem condições de trabalhar dentro do mercado. Na sua denúncia, Joãozinho revela que a prefeitura pagou pelo aluguel das 16 tendas, entre janeiro e novembro de 2022, R$ 2,9 milhões. Considerando os dados, o valor do aluguel de cada tenda saiu por R$ 16,4 mil.
"São tendas de ouro", reage Joãozinho. "Com o que a prefeitura pagou daria para comprar 200 tendas", emenda. Se os números estiverem corretos, o valor pago pela locação de uma tenda em apenas um mês seria suficiente para comprar uma tenda novinha. O preço atualmente está entre R$ 14 mil e R$ 19 mil no site Mercado Livre para a compra, não para o aluguel.
Velhos Problemas
Mais de 1 ano depois, o Mercado do Benedito Bentes ainda não foi totalmente reaberto. Tendas da Prefeitura de Maceió, utilizadas pelos comerciantes de carnes e peixes, estão em estado precário. Feirantes reclamam da estrutura e pedem que o prédio do Mercado reabra as portas "o mais rápido possível".
Seu "Bel" (58), como é conhecido, é permissionário e possui uma loja de roupas e artigos esportivos na área que permaneceu aberta do Mercado. "Antes já não era bom, agora com essas tendas aí, ninguém vem pra cá, ninguém quer vir comprar, tá todo mundo na mesma situação aqui", desabafou. De acordo com Daniel Herculano (53), Presidente da Comissão dos Comerciantes da Feira Livre e Mercado Público do Benedito Bentes, a Prefeitura de Maceió disse que as obras teriam início ainda em janeiro de 2024.
"Surgiu uma história de que iam demolir o Mercado, reunimos um pessoal e fomos pedir para que reformasse e não demolisse, porque pra restaurar já é difícil, imagina pra demolir e construir outro? A secretaria disse que em janeiro as obras iriam começar, estamos aguardando", afirmou.
Maria Margarida (54) é comerciante de frutas e verduras na Feira Livre, localizada ao lado do Mercado. De acordo com ela, a Prefeitura de Maceió tratou os comerciantes da região "pior que cachorro", por não disponibilizarem banheiros funcionais para os feirantes, que receberam somente dois banheiros químicos, que já estão inutilizáveis. "O banheiro tá só pela hora da morte, é pra todo mundo, não dá pra usar, estão tratando a gente pior que cachorro".
Fiscalização
Em resumo, Joãozinho explicou o que encontrou no Maceió durante sua visita:
- Em janeiro de 2022, a prefeitura retirou feirantes do canteiro da avenida central do Biu, transferindo-os para uma rua por trás do mercado público. Foram instaladas 16 tendas de 12 por 12 metros. A ação "era necessária, até porque os feirantes viviam em situação precária".
- No dia 31 do 12 de 2022, parte do teto do mercado do Biu caiu, no setor de carnes e peixes, deixando alguns feridos e a área foi interditada. Os comerciantes (permissionários) daquele setor foram transferidos para a parte a frente do mercado em seis novas tendas.
- Vi que em 6 meses o que estava sendo feito pela prefeitura era lixar as estruturas que estavam para cair, banheiros interditados, parte elétrica velha, um verdadeiro caos.
- No local onde comerciantes foram alocados, a estrutura era extremamente precária, montaram pias lá, dois banheiros químicos para servir a toda a população e aos feirantes.
- Sabe quanto a prefeitura de Maceió gastou de janeiro de 2022 até agora, R$ 2,9 milhões em tendas. Devem ser tendas de ouro. Não sou eu que estou dizendo, é o portal da transparência de Maceió.
- Tive acesso a esses pagamentos através da lei de acesso à informação. Foram 32 processos. De janeiro a novembro de 2022, quase R$ 3 milhões com locação de tendas. Esse valor daria para comprar 200 tendas. Veja só o absurdo. Em um mês que foi pago o aluguel, o município compraria todas elas.
- Quem fez parte dos pagamentos foi o secretário e primo do prefeito Maurício Caldas. Não pode continuar essa farra com dinheiro público.
Fonte: Jornal de Alagoas