No próximo dia 31, a prefeitura do Recife – que trabalhou em parceria com a Aries neste projeto-piloto – vai assumir a operação total dos jardins filtrantes do Parque do Caiara.
A Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) fará a manutenção da filtragem e do paisagismo dos jardins.
“Estamos ensinando a operação do sistema para que a prefeitura dê continuidade e para que o parque tenha sobrevida após o encerramento da nossa participação no projeto-piloto”, prevê Mariana Pontes.
A secretária Municipal de Infraestrutura do Recife, Marília Dantas, cita os ganhos da iniciativa que despolui o riacho. “Não há geração de lodo, nem uso de produtos químicos, e é baixo o consumo de energia [elétrica] e carbono positivo”. A prefeitura vai estudar o caso para avaliar a ampliação do projeto na cidade.
Por ora, a Emlurb já investiu R$ 500 mil na instalação de iluminação pública no local para atrair os visitantes ao parque público. Marília Dantas exalta os jardins filtrantes que, segundo ela, também têm efeito pedagógico para população.
“A prefeitura entende que a implantação desse sistema traz uma mensagem de conscientização ambiental porque, se bem mantido, provoca uma relação maior das pessoas com a natureza. Entende-se que é levada essa mensagem de cuidado com o meio ambiente”.
As obras dos jardins filtrantes tiveram início em 2022, e o sistema começou a operar, de fato, em fevereiro deste ano. A implantação total do projeto está prevista para abril, com a capacidade de filtragem mantida em cerca de 360 mil litros de água/dia.
A tecnologia usada no projeto é baseada em recursos naturais, com uso basicamente de pedras, areia e plantas aquáticas, por onde fluem as águas. A absorção dos nutrientes pelas raízes dos vegetais, associada à passagem da água suja por cinco tanques de pedras, com diferentes substratos, resulta na remoção e detenção de resíduos sólidos, como metais.
A água então é tratada sem química. Este processo de filtragem, principalmente de esgoto, é contínuo. Ao mesmo tempo em que a água do riacho do Cavouco entra no sistema, há água purificada saindo e sendo devolvida ao Capibaribe.
Para este projeto do riacho do Cavouco foram empregadas 7,5 mil mudas de 36 tipos de macrófitas aquáticas nativas da região – como Heliconia psittacorum, Pontederia cordata, Canna generalis, Thalia geniculata, Echinodorus grandiflorus e Nymphea sp –, plantadas nas pedras dos tanques.
As espécies foram selecionadas considerando a resistência ao clima local e o paisagismo projetado para o Parque do Caiara. Este tipo de vegetação macrófita contribui para a manutenção da biodiversidade e pode servir como indicador da qualidade da água.
A tecnologia é semelhante à empregada na despoluição do rio Sena, da cidade de Paris, na França, que foi visitada por representantes da Aries. Mariana aponta que no Brasil a experiência já desperta interesse, por exemplo, da Universidade Federal de Pernambuco (UFP) e da cidade de Florianópolis (SC) para futura implantação. “Tem havido muita curiosidade”.
O engenheiro civil responsável pela obra recifense dos jardins filtrantes pela Aries, Renato Martiniano, registra que há uma técnica similar em Niterói (RJ) e em algumas indústrias nacionais. Em entrevista à Agência Brasil, Martiniano garante que o projeto pernambucano é pioneiro na gestão pública do Nordeste brasileiro.
Ele considera que a manutenção dos jardins filtrantes é simples e de custo mais baixo que o tratamento convencional, além de respeito à natureza do riacho.
“A foz do Cavouco é um ponto estratégico, onde foi instalado o jardim dentro do parque. Fico feliz porque é uma solução de design urbano sensível à água, que interage com o ciclo hidrológico natural, ou seja, capta e devolve para o rio Capibaribe uma água de melhor qualidade.”
Martiniano, que é especialista em recursos hídricos pela UFP, defende a ativação de mais sistemas de jardins filtrantes pelo país e formas inovadoras para promover o saneamento básico em áreas menores.
Para ele, a solução seria uma alternativa para complementar o tratamento convencional de esgoto, realizado nas grandes cidades com elementos considerados tóxicos à vida humana e de peixes.
“É possível a gente fazer ações, não precisa centralizar isso no sistema tradicional de tratamento de esgoto. A gente pode, sim, trazer soluções descentralizadas, sem desmerecer o outro sistema, que somando aumentem a segurança hídrica, tratem e protejam esses corpos e melhorem a classificação das águas. Assim, melhora como um todo o bem-estar das pessoas e o futuro das gerações vindouras”.
A expectativa da Agência Aries é de que o projeto sustentável possa reduzir entre 90% e 95% a poluição das águas do riacho do Cavouco.
A diretora Mariana conta que testes químicos de monitoramento já estão sendo realizados para aferir a qualidade de amostras da água do riacho, mas que visualmente, a água cinzenta está dando lugar a um líquido bem menos turvo.
“Já no primeiro resultado, na entrada do sistema de filtragem, a gente vê, a olho nu, a diferença da qualidade da água. E principalmente na saída, quando essa água volta ao riacho e vai desaguar no [rio] Capibaribe”.
De acordo com Mariana, a oxigenação das águas do Cavouco aumentou com o sistema inovador e, também está mudando o microclima local. “Está cheio de sapos lá, beija-flores, capivaras e peixes. A vida está chegando”.
“O projeto é uma gota no oceano. Mas, é uma gota de contribuição importante porque melhora a qualidade de vida do peixe que está ali, tem capivara, jacaré e vários animais que vivem no local. É um rio urbano e que sofre com as consequências da poluição. Mas, o [Capibaribe] que é tão importante para o Recife ainda é muito poluído”, constata Mariana.
O monitoramento da qualidade dessas águas do riacho vai ser frequente, já que novos sistemas serão instalados nos próximos meses, na entrada e na saída dos jardins filtrantes.
O projeto CITInova do MCTI vai ser finalizado nos próximos meses, com a intenção de ainda replicar as experiências por vários anos.
O coordenador-Geral de Ecossistemas e Biodiversidade do ministério Luiz Henrique Mourão do Canto Pereira, anunciou à Agência Brasil, que uma segunda edição – o CITInova 2, foi aprovado pelo Fundo Global do Meio Ambiente com um novo perfil que contemplará três regiões metropolitanas: Florianópolis, Belém e Teresina.
“É um desafio até maior porque envolve o poder de uma outra esfera de governo, o nível é estadual. Esse novo projeto terá início, agora, em maio ou junho”, diz Pereira.
Fonte: Agência Brasil