Um dos integrantes do novo comitê é o historiador Ivanir dos Santos, conselheiro do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap). “Você vai em qualquer museu aqui e vê a história da Europa. E vê o negro como escravo. Aqueles que entraram por ali eram muito mais do que escravizados. Tanto que deram a marca da identidade da cultura do nosso país hoje”.
O comitê é uma exigência da Unesco para que o Cais do Valongo mantenha o status de Patrimônio Mundial, mas Ivanir dos Santos defende que o local seja um monumento que demonstre a importância dos africanos trazidos para o Brasil e seus descendentes:
“Queremos mais do que manter o título da Unesco. Não pode ser para inglês ver. O Brasil tem uma dívida com a comunidade negra, com os descendentes de escravizados”.
Segundo ele, além da preservação do cais, o comitê deve priorizar a reforma do prédio das docas Dom Pedro II, que fica ao lado do Cais. O edifício foi construído por André Rebouças, engenheiro negro, sem o uso de mão de obra escrava.
“Antes de qualquer coisa, o prédio não pode cair. É um prédio construído no século 19, que está sem luz”.
O projeto de implantação de um centro de memória da cultura negra na região do Cais já foi anunciado pelo governo federal. Os detalhes devem ser anunciados até o mês de maio, segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que será parceiro nesse processo.
Entre as instituições do comitê estão o Ministério da Cultura, a Fundação Palmares, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e o Arquivo Nacional. Outras instituições vão ser convidadas para participar das reuniões, mas sem direito a voto, como o Ministério Público Federal e o Escritório da Unesco no Brasil. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) será o coordenador dos trabalhos do grupo, que deverá se reunir pelo menos uma vez por mês.
Segundo o Iphan, o Cais do Valongo recebeu 1 milhão de escravos vindos da África. A partir de 1774, se tornou o único ponto de desembarque dessas pessoas na cidade do Rio de Janeiro.
Foi desativado como porto em 1831 e aterrado 12 anos depois para a construção de um novo píer que receberia a princesa Teresa Cristina, esposa do Imperador Dom Pedro II. Sua redescoberta se deu em 2011, durante as obras de revitalização da zona portuária da cidade do Rio.
Fonte: Agência Brasil