"O Brasil, pela Constituição Federal e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), é um país genuinamente inclusivo e, no entanto, a educação inclusiva não considerava tudo isso e mantinha certos alunos em escolas especiais e instituições especiais", criticou.
No início de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva revogou decreto do ex-presidente Jair Bolsonaro que incentivou, em 2020, a criação de classes especializadas em escolas regulares e escolas próprias para pessoas com deficiência. Na prática, o dispositivo abria caminho para a criação de escolas especiais para alunos com deficiência e aulas separadas, sem convivência com as outras crianças. A medida já havia sido suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no mesmo ano, após questionamento da ação.
"Temos uma clareza muito grande do que é inclusão. Inclusão é ‘estar com’, não é estar junto. Junto a gente pode estar em toda parte, mas ‘estar com’ significa compartilhar, colaborar, cooperar, principalmente conviver. A inclusão não é estar do lado, à frente do outro. É estar com o outro e isso é muito difícil nas escolas do jeito como o governo tem agido, a partir de toda essa discussão feita de 2010 até 2022. Os professores e as redes de ensino faziam interpretações, e ainda fazem, muito diferentes do texto da política", disse.
Escola melhora desenvolvimento de crianças com deficiência - Tomaz Silva/Agência BrasilNa avaliação da professora, ainda há um entendimento distorcido sobre o que é inclusão dentro da própria escola.
"A inclusão implica mudança do modo como conceber, realizar e avaliar o ensino. Na concepção atual, a inclusão dos alunos da educação especial é muito complicada porque eles fogem do modelo [padrão]. Por outro lado, os pais das pessoas com deficiência se veem numa situação muito difícil, de fazer com que os professores tenham uma visão do filho deles como pessoas que não se encaixam em um modelo", observou. "Os pais querem que seus filhos sejam vistos como pessoas e não [apenas] como ‘pessoas com deficiência’".
Atualmente, Teresa Mantoan lidera o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença (Leped) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), criado em 1996 para ampliar as pesquisas na área de educação inclusiva. Para a professora, a formação atual ainda não capacita adequadamente docentes para uma educação de fato inclusiva.
"A própria formação das universidades deixa muito a desejar, o pedagogo é malformado. Ao pedagogo se ensina a didática da matemática, da língua portuguesa, e isso não existe. Estamos em uma educação pós-moderna, o mundo é outro", disse. "Ensinar não é simplesmente transmitir conteúdos, conhecimentos que não tenham gancho anterior na experiência da criança, que não tenham sentido para ela. Os conteúdos não funcionam como fim da aprendizagem. O conteúdo tem que ser um meio para que o aluno possa entender melhor o que o conteúdo quer dizer", completou.
Autora do livro A escola que queremos para todos, a professora defende que a educação não seja apenas reprodução de conteúdos programáticos, dividindo alunos por conhecimentos decorados.
“[A escola que defendo] é aquela em que alunos e professores vão experimentar o mundo a partir de conteúdos dos currículos, mas sem uma preocupação de que todos aprendam e tenham as mesmas capacidades de respostas e interesses. A escola difícil é essa [atual] que dribla para o que ela mesma quer, não o que é de interesse do aluno. Na prática, é fazer com que os professores e, principalmente, quem coordena as políticas educacionais entendam que estudar não é decorar conteúdo, muito menos ter as mesmas capacidades, pois elas variam entre as pessoas”, argumentou.
Fonte: Agência Brasil