De acordo com relatório da instituição financeira, a deficiência de conhecimento nas crianças de até 5 anos pode se traduzir em queda de 25% nos ganhos na vida adulta. Nas crianças em idade escolar, a perda pode ser de até 10% dos rendimentos. A pandemia, ressaltou o Banco Mundial, impactou o capital humano, definido como conhecimento, competências e saúde acumulada ao longo da vida.
A deterioração repete-se nas matrículas. No fim de 2021, as matrículas em diversos países estavam mais de 10 pontos percentuais abaixo do observado antes da pandemia. As crianças em idade escolar (6 a 14 anos) perderam 32 dias de aprendizagem para cada 30 dias de fechamento das escolas. Isso porque os alunos não apenas deixaram de aprender, mas esqueceram parte do que haviam aprendido.
O efeito é ainda mais cruel nos países de média e de baixa renda, que não puderam implementar políticas eficientes de ensino remoto. A insuficiência de aprendizagem aumentou e, agora, cerca de 70% das crianças de 10 anos não conseguem entender um texto básico. Quase 1 bilhão de crianças perdeu pelo menos um ano de ensino presencial e mais de 700 milhões perderam pelo menos um ano e meio nesses países.
Em relação aos jovens (15 a 24 anos), a covid-19 traduziu-se em menos empregos e menores salários. No fim de 2021, o nível absoluto de emprego jovem recuperou-se em relação a antes da pandemia, mas a recuperação não foi suficiente para incorporar quem acabou de entrar no mercado de trabalho. Cerca de 40 milhões de pessoas que teriam emprego não fosse a pandemia estavam desempregadas.
Os rendimentos dos jovens caíram 15% em 2020 e 12% em 2021. O relatório estima em até 10 anos o impacto do desemprego ou de empregos mal remunerados para quem entra no mercado de trabalho, com remunerações 13% mais baixas em média. Segundo o Banco Mundial, as pessoas com menos de 25 anos hoje, que compõem a população mais afetada pela pandemia, representarão mais de 90% da força de trabalho ativa em 2050.
No Brasil, o número de jovens da categoria "nem-nem", que não estudavam nem trabalhavam, subiu significativamente e atingiu 22% no último trimestre de 2021.
Na América Latina, as crianças perderam 1,7 ano de aprendizado por causa de fechamentos escolares particularmente longos. No Brasil, as escolas ficaram totalmente fechadas por 44% do tempo de 1º de abril de 2020 a 31 de março de 2022 e 90% do tempo parcialmente fechadas. As matrículas no pré-escolar caíram mais de 13 pontos percentuais no fim de 2021 em relação ao período pré-pandemia, com recuo maior em crianças de faixas mais baixas de renda.
O Banco Mundial listou medidas de curto e de longo prazo para lidar com a deterioração do capital humano. No curto prazo, os países devem promover e apoiar campanhas de vacinação e de suplementação nutricional das crianças pequenas; aumentar o acesso à pré-escola e aumentar a cobertura dos programas de transferências de renda a famílias vulneráveis.
Para crianças em idade escolar, o relatório sugere o aumento do tempo de instrução, a avaliação da aprendizagem para adequar o ensino ao nível dos alunos e a simplificação dos currículos com foco na aprendizagem básica. Para os jovens, o Banco Mundial sugere apoio para à capacitação adaptada, à intermediação de empregos, a programas de empreendedorismo e a novas iniciativas voltadas para a força de trabalho.
No longo prazo, destaca o relatório, os países devem construir sistemas de saúde, educação e proteção social ágeis, resilientes e adaptáveis a choques atuais e futuros, como novas pandemias ou desafios decorrentes da mudança climática. Caso isso não seja feito, alertou o Banco Mundial, haverá não apenas uma, mas várias gerações perdidas.
Os financiamentos do Grupo Banco Mundial para lidar com a pandemia somaram US$ 72,8 bilhões entre abril de 2020 e junho de 2022. Desse total, US$ 37,6 bilhões referem-se a linhas de crédito do próprio Banco Mundial e US$ 35,1 bilhões em financiamentos da Agência Internacional de Desenvolvimento. No mesmo período, 300 projetos de desenvolvimento de capital humano (ações de educação, capacitação e saúde) em países de média e baixa renda receberam apoio do grupo, num total de US$ 47,5 bilhões.
Fonte: EBC