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Indígenas têm menos acesso à vacinação contra covid-19, diz pesquisa

Por Voz na Comunidade em 16/02/2023 às 08:32:08

Apenas 48,7% da população indĂ­gena com mais de 5 anos de idade que vive em municĂ­pios com distritos sanitĂĄrios especiais indĂ­genas (Dsei) tinham recebido o esquema primĂĄrio de vacinação contra a covid-19 até 1Âș de março do ano passado, revela estudo conduzido por diversas instituições e publicado em preprint na revista cientĂ­fica The Lancet. Conclusões de trabalhos divulgados nesse formato são consideradas preliminares porque ainda não foram revisadas por cientistas não envolvidos na pesquisa.

O total de indĂ­genas imunizados com duas doses ou dose Ășnica das vacinas contra covid-19 era quase 30 pontos percentuais mais baixo que o da população não indĂ­gena, que chegava a 74,8%.

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O estudo foi conduzido por pesquisadores do Centro de Integração de Dados em Conhecimentos para SaĂșde (Cidacs/Fiocruz Bahia), junto com a London School of Hygiene and Tropical Medicine, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade São Paulo (USP), a Universitat Pompeu Fabra (Barcelona), a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Para o cĂĄlculo do percentual de cobertura vacinal, a população indĂ­gena nos Dsei foi estimada em cerca de 600 mil pessoas, das quais 389 mil receberam apenas uma dose (65%) e 291 mil foram consideradas com imunização bĂĄsica completa. O esquema bĂĄsico ou primĂĄrio de vacinação não inclui nenhuma das doses de reforço, consideradas essenciais para manter imunidade duradoura contra a covid-19.

O artigo pondera que a cobertura vacinal calculada, porém, pode estar superestimada, inclusive porque o próprio governo calcula uma população indĂ­gena cerca de 10% maior nesses distritos (657 mil pessoas). Além disso, os pesquisadores lembram que hĂĄ pessoas indĂ­genas que vivem fora dos Dsei, o que impede generalizações dos resultados para toda a população indĂ­gena do Brasil.

"Baixas coberturas vacinais em muitas comunidades indĂ­genas compostas por apenas algumas centenas de pessoas podem também ameaçar sua continuidade cultural, uma vez que a covid-19 afeta mais as pessoas mais idosas, e elas são as principais responsĂĄveis pela transmissão cultural entre gerações", alerta o estudo.

Uma das responsĂĄveis pela pesquisa, Julia Pescarini, do Cidacs/Fiocruz, lembra ainda que a população indĂ­gena é mais jovem que a população brasileira em geral, com menor percentual de idosos.

"O adulto tem mais locomoção e maior possibilidade de caminhar até uma cidade mais distante e se vacinar. Agora, uma pessoa com mais de 60 anos, tem muito mais dificuldade de chegar às cidades e se vacinar. Isso explica também porque a vacinação é menor", disse Julia.

A pesquisadora chama a atenção ainda para a cobertura vacinal das crianças de 5 a 9 anos. Em 1Âș de março de 2022, somente 2,6% na população indĂ­gena dos Dsei nessa faixa etĂĄria havia recebido a primeira dose, enquanto a média no Brasil era de 40,7%.

Os pesquisadores avaliaram também a efetividade das vacinas na população indĂ­gena. Para tanto, foi acompanhado um grupo de indĂ­genas com mais de 5 anos vacinados entre 18 de janeiro de 2021 e 1Âș de março de 2022 e calculada a taxa de proteção contra casos sintomĂĄticos, mortalidade e hospitalização.

Uma preocupação dos pesquisadores era a possibilidade de deficiĂȘncias nutricionais prejudicarem a resposta imunológica dos indĂ­genas à vacinação, mas os dados mostraram um desempenho similar das vacinas ao observado na população não indĂ­gena.

Julia sustenta que o monitoramento tem que ser contĂ­nuo. "Este era um alerta em março, mas é ideal que o monitoramento seja feito de forma constante para ver em quais populações é preciso fortalecer o sistema de vacinação", disse a pesquisadora.


"O que se vĂȘ de forma geral com a covid-19 é que existe uma iniquidade por raça, posição socioeconômica, e com a população indĂ­gena, não é diferente. A população indĂ­gena, a população negra, a população das favelas tĂȘm mais dificuldades, mesmo em centros urbanos, de acessar a vacinação", disse a pesquisadora.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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