O total de indÃgenas imunizados com duas doses ou dose única das vacinas contra covid-19 era quase 30 pontos percentuais mais baixo que o da população não indÃgena, que chegava a 74,8%.
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Para o cálculo do percentual de cobertura vacinal, a população indÃgena nos Dsei foi estimada em cerca de 600 mil pessoas, das quais 389 mil receberam apenas uma dose (65%) e 291 mil foram consideradas com imunização básica completa. O esquema básico ou primário de vacinação não inclui nenhuma das doses de reforço, consideradas essenciais para manter imunidade duradoura contra a covid-19.
O artigo pondera que a cobertura vacinal calculada, porém, pode estar superestimada, inclusive porque o próprio governo calcula uma população indÃgena cerca de 10% maior nesses distritos (657 mil pessoas). Além disso, os pesquisadores lembram que há pessoas indÃgenas que vivem fora dos Dsei, o que impede generalizações dos resultados para toda a população indÃgena do Brasil.
"Baixas coberturas vacinais em muitas comunidades indÃgenas compostas por apenas algumas centenas de pessoas podem também ameaçar sua continuidade cultural, uma vez que a covid-19 afeta mais as pessoas mais idosas, e elas são as principais responsáveis pela transmissão cultural entre gerações", alerta o estudo.
Uma das responsáveis pela pesquisa, Julia Pescarini, do Cidacs/Fiocruz, lembra ainda que a população indÃgena é mais jovem que a população brasileira em geral, com menor percentual de idosos.
"O adulto tem mais locomoção e maior possibilidade de caminhar até uma cidade mais distante e se vacinar. Agora, uma pessoa com mais de 60 anos, tem muito mais dificuldade de chegar às cidades e se vacinar. Isso explica também porque a vacinação é menor", disse Julia.
A pesquisadora chama a atenção ainda para a cobertura vacinal das crianças de 5 a 9 anos. Em 1º de março de 2022, somente 2,6% na população indÃgena dos Dsei nessa faixa etária havia recebido a primeira dose, enquanto a média no Brasil era de 40,7%.
Os pesquisadores avaliaram também a efetividade das vacinas na população indÃgena. Para tanto, foi acompanhado um grupo de indÃgenas com mais de 5 anos vacinados entre 18 de janeiro de 2021 e 1º de março de 2022 e calculada a taxa de proteção contra casos sintomáticos, mortalidade e hospitalização.
Uma preocupação dos pesquisadores era a possibilidade de deficiências nutricionais prejudicarem a resposta imunológica dos indÃgenas à vacinação, mas os dados mostraram um desempenho similar das vacinas ao observado na população não indÃgena.
Julia sustenta que o monitoramento tem que ser contÃnuo. "Este era um alerta em março, mas é ideal que o monitoramento seja feito de forma constante para ver em quais populações é preciso fortalecer o sistema de vacinação", disse a pesquisadora.
"O que se vê de forma geral com a covid-19 é que existe uma iniquidade por raça, posição socioeconômica, e com a população indÃgena, não é diferente. A população indÃgena, a população negra, a população das favelas têm mais dificuldades, mesmo em centros urbanos, de acessar a vacinação", disse a pesquisadora.
Agência Brasil