Segundo a entidade, 54 organizações da sociedade civil, distribuĂdas em favelas da região metropolitana do Rio de Janeiro e da Costa Verde, foram contempladas pela chamada pĂșblica com financiamento para realização de ações contra o novo coronavĂrus. O edital contou com recursos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), no total de R$ 20 milhões, com repasse feito com base na Lei 8.803/20.
Segundo Braga, as 54 organizações beneficiadas pelo edital jĂĄ vinham desenvolvendo ações de enfrentamento à covid-19 em seus territórios e receberam financiamento para fortalecer atividades ao longo de 2021 e 2022, quando o edital foi pago. "Estamos falando de uma polĂtica pĂșblica que conseguiu efetivar para a população de favela, sobretudo para as organizações e lideranças comunitĂĄrias, um suporte para a luta, para as ações que jĂĄ vinham sendo desenvolvidas no enfrentamento da pandemia", afirmou.
De acordo com Braga, o que se percebeu no perĂodo foi que as organizações, coletivos e associações de moradores promoveram as primeiras reações dos territórios populares para enfrentar a pandemia. "As ações pĂșblicas mais concretas vieram só muito tempo depois. Na primeira ação de mitigação dos danos da pandemia, as organizações e coletivos foram fundamentais. E a polĂtica pĂșblica veio para coroar e fortalecer esse processo."
Braga explicou que isso pôde ser feito porque a chamada pĂșblica permitiu qualificar as ações e ampliar o nĂșmero de beneficiados. Para ele, a chamada da Fiocruz permitiu também desenvolver institucionalmente os coletivos e organizações. Além do suporte emergencial no cenĂĄrio da pandemia, Braga diz que é possĂvel haver um efeito mais longevo de fortalecimento das organizações, que continuarão a desenvolver seus trabalhos no médio e longo prazos.
Na avaliação de Aruan Braga, os territórios da Rocinha, da Penha e de Guaratiba são exemplares para entender como as ações de enfrentamento da pandemia vinham sendo realizadas pelas organizações locais. Nas favelas da Penha e de Pedra de Guaratiba, foram ações voltadas para a segurança e soberania alimentar, um dos principais desafios enfrentados pelas comunidades ao longo da pandemia. Isso foi disseminado na maior parte dos demais territórios analisados. "Mais de 80% dessas organizações também atuaram com a segurança alimentar, a soberania alimentar, nos territórios populares".
Na Rocinha, a preocupação foi desenvolver ações de comunicação e orientação para o território. O Observatório de Favelas percebeu que as informações não chegavam aos territórios ou, quando chegavam, não tinham conexão com a realidade local. "A simples orientação para lavar as mãos era inviabilizada com frequĂȘncia em diversas favelas que não tinham abastecimento de ĂĄgua regular, por exemplo."
De acordo com Braga, isso reforça a importância das medidas adotadas, sobretudo quando se pensa em cenĂĄrios crĂticos como o da pandemia, que tendem a agravar, em momentos futuros de crise, as desigualdades entre as populações mais vulnerabilizadas hoje,.
No inĂcio de março, o Observatório de Favelas deve lançar a 15ÂȘ edição do Mapa Social do Corona, com o relatório focado em educação, refletindo e aprofundando a anĂĄlise sobre as desigualdades educacionais durante a pandemia. Nesse perĂodo, o acesso das crianças à escola foi afetado de maneira significativa, bem como a socialização delas no ambiente escolar, que foi interrompida durante a pandemia.
Fonte: AgĂȘncia Brasil