A TransparĂȘncia Internacional avalia que, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), houve um "desmanche acelerado" das instituições e dos processos de combate à corrupção no paĂs. Segundo a ONG, ao longo dos Ășltimos quatro anos, o Brasil enfrentou "degeneração sem precedentes de seu regime democrĂĄtico".
O diretor-geral da PolĂcia Federal foi, segundo a anĂĄlise, trocado quatro vezes durante o governo Bolsonaro. Paulo Maiurino, que comandou a corporação de abril de 2021 a fevereiro de 2022, fez, segundo o relatório, diversas mudanças em posições-chave na instituição. Outra alteração apontada pela ONG foi a troca do superintendente em São Paulo por um nome alinhado ao então presidente Bolsonaro e do superintendente no Amazonas, que havia enviado notĂcia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusado de interferir na operação que levou à maior apreensão de madeira ilegal da história do Brasil.
Segundo o relatório, o desmonte proposital da governança ambiental provocou o crescimento das taxas de desmatamento e das violações de direitos humanos contra povos indĂgenas e comunidades tradicionais.
A TransparĂȘncia Internacional considera a indicação de Augusto Aras para o comando da PGR um dos pontos centrais da desarticulação do combate à corrupção e da redução do controle institucional das ações do governo. "As consequĂȘncias da omissão da PGR vão muito além da corrupção, ao assistir inerte à gestão criminosa da pandemia da covid-19, que resultou na maior tragédia humanitĂĄria da história brasileira", enfatiza o documento.
De acordo com o relatório, a omissão da PGR fez com que o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral exacerbassem seus papéis para conter as ameaças à democracia promovidas por Bolsonaro e seus aliados. "Sem poder contar com o titular da ação penal ou confiar no PGR Augusto Aras, ministros passaram a agir de ofĂcio e homologar coletivamente heterodoxias que jamais referendariam, se não concebessem uma situação de risco extremo", diz o documento.
Ainda conforme o relatório da TransparĂȘncia Internacional, o governo Bolsonaro promoveu o desmantelamento dos processos de controle social, reduzindo o acesso à informação, com a falta de dados governamentais e uso ilegal de sigilos.
O abuso das emendas do relator-geral à Lei OrçamentĂĄria Anual, o chamado orçamento secreto, também é apontado pela ONG como um sistema que reduziu a transparĂȘncia no uso do dinheiro pĂșblico. "Sob um verniz de legalidade e um teatro de institucionalidade, o Orçamento Secreto representou o maior esquema de apropriação orçamentĂĄria para fins escusos [de] que se tem registro no paĂs", afirma o relatório.
Segundo a TransparĂȘncia Internacional, a partir do uso dessas emendas, foram enviados bilhões de reais "para municĂpios sem capacidade institucional de controle, pulverizou-se ainda mais a corrupção no paĂs, potencializando fraudes e desvios em nĂvel local".
Fonte: AgĂȘncia Brasil