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Fiocruz: resposta rápida a pandemias requer investimento constante

Por Voz na Comunidade em 21/04/2022 às 09:13:19

A capacidade de resposta rĂĄpida a situações de emergĂȘncia em saĂșde pĂșblica, como a pandemia da covid-19, requer um investimento permanente em ciĂȘncia, tecnologia e inovação, defendeu hoje (20) a presidente da Fiocruz, NĂ­sia Trindade, na abertura do webnĂĄrio "A pandemia covid-19 em transição", promovido pela fundação.

"A gente tem essa ilusão de que a resposta [à pandemia] é rĂĄpida. Ela precisa ser rĂĄpida, mas ela não vem do nada, vem de uma base", afirmou NĂ­sia. "É fundamental o investimento permanente e constante em ciĂȘncia, tecnologia e inovação. Nada da resposta ocorreu sem um histórico e sem investimentos anteriores. Isso se aplica à vacina hoje totalmente nacionalizada pela Fiocruz a partir do acordo com a Universidade de Oxford e a AstraZeneca".

A presidente da Fiocruz destacou que esse investimento precisa estar associado à proteção social e à saĂșde pĂșblica, e disse que a pandemia deixa como aprendizado a necessidade de descentralizar os centros de produção de vacinas e incluir mais paĂ­ses, além de reforçar o multilateralismo.

"Parece que esse discurso soa como uma retórica ingĂȘnua nesse momento em que vivemos uma guerra e em um mundo marcado por conflitos que se intensificam", disse, citando a invasão da Ucrânia. "Ainda não sabemos a implicação dessa guerra , no caso a guerra na Ucrânia, em relação a todo o esforço global que precisa ser feito", acrescentou.

Pandemia em transição

O webnĂĄrio discutiu o cenĂĄrio atual da pandemia, marcado por uma queda no nĂșmero de casos e óbitos causados pela covid-19 em relação às ondas de transmissão anteriores.

O pesquisador da Escola Nacional de SaĂșde PĂșblica da Fiocruz (Ensp/Fiocruz) Carlos Machado chamou atenção para o impacto que a doença teve sobre a população brasileira, que, apesar de representar menos de 3% da população mundial, somou mais de 10% das vĂ­timas da pandemia em todo o mundo.

"No momento atual, em diversos paĂ­ses e no Brasil, vivemos um cenĂĄrio bastante positivo. No Brasil, a existĂȘncia do SUS [Sistema Único de SaĂșde] permitiu não só diminuir o impacto da pandemia na população como também avançar na vacinação", disse, reforçando que o sistema pĂșblico de saĂșde precisarĂĄ de mais investimentos para lidar com as sequelas e casos de covid-19 persistente, além de atender aos passivos causados por diagnósticos e tratamentos para outras doenças que foram adiados durante a pandemia.

O coordenador do Programa de Computação CientĂ­fica da Fundação (Procc/Fiocruz), Daniel Villela, avaliou que não é possĂ­vel esperar uma ausĂȘncia de circulação do SARS-CoV-2, dada a transmissibilidade de suas variantes e a possibilidade de novas mutações surgirem. No entanto, ele considera que o mais provĂĄvel é a progressão para um regime endĂȘmico, em que a doença ocorra com uma regularidade previsĂ­vel.

"O que se deve evitar é o clima de que a pandemia acabou, de ter um cenĂĄrio de status de doença negligenciada", alertou, destacando a necessidade de avançar na vacinação de crianças. "Ainda hĂĄ bastante espaço para avançar. As crianças foram menos afetadas no inĂ­cio, mas elas foram, sim, afetadas, e precisam de atenção".

A professora da Universidade Federal do EspĂ­rito Santo Ethel Maciel abriu sua apresentação abordando a dificuldade de estabelecer qual seria o padrão endĂȘmico de um vĂ­rus novo, que só passou a circular a partir de 2019. "Não temos esse consenso internacional. Ainda estĂĄ sendo construĂ­do".

Ela defendeu que a revogação do decreto da EmergĂȘncia de SaĂșde PĂșblica de Importância Nacional (Espin) no Brasil deveria ser coordenada com a Organização Mundial da SaĂșde (OMS) e com as unidades federativas.

"Como a gente tem um organismo internacional que estĂĄ analisando a emergĂȘncia, era muito melhor que a gente fizesse as coisas coordenadas. Não estamos fazendo. Não estamos fazendo nem do ponto de vista internacional nem interno. Corre o risco de o Ministério da SaĂșde revogar o decreto, e os governadores manterem os decretos estaduais", alertou.

A professora defende que a revogação leve em consideração a continuidade de ações de vigilância e acompanhamento da doença, incluindo casos de covid-19 persistente, cujo tratamento deveria ser feito em centros especializados que ainda não foram criados. "Corre o risco de que, se a gente invisibilizar a doença, isso nunca aconteça".

Para o pesquisador Eduardo Carmo, da Fiocruz BrasĂ­lia, é preciso lembrar que, mesmo com uma queda nas mortes causadas pela covid-19, elas ainda se mantĂȘm em nĂ­veis mais elevados que as de outros vĂ­rus respiratórios. E ponderou que a transição para o fim da pandemia pode demorar mais devido ao relaxamento das medidas preventivas e à redução da testagem. "A evolução do agente e da doença ainda é imprevisĂ­vel", disse.

Integrante do Observatório Covid-19 da Fiocruz, Raphael Guimarães defendeu que ainda é preciso comunicar com clareza para a população que a pandemia não acabou e destacou que o Brasil vive uma estagnação da cobertura vacinal quando ainda hĂĄ estados com menos de 70% da população com as duas doses da vacina, além de menos da metade da população elegĂ­vel com dose de reforço. "O rebaixamento cria uma falsa impressão de que agora estĂĄ tudo bem, e de que, se estĂĄ tudo bem, eu não preciso me vacinar".

Ele defende que o cenĂĄrio positivo com menos mortes e internações deve servir para alinhar prĂĄticas de vigilância e de atenção primĂĄria, além de preparar o sistema de saĂșde para atender a outros problemas de saĂșde que não foram descobertos ou tratados durante a pandemia.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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