Um dos elementos obrigatórios da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a apresentação de uma proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Esse elemento tem uma competência exclusiva para sua avaliação e vale 200 pontos.
Mas como os direitos humanos entram nessa história?
Segundo o professor, para obter uma boa pontuação na competência 5, que avalia o elemento, o candidato não pode defender direitos para um grupo social às custas do direito de outro grupo. Ou seja, a proposta precisa defender a manutenção ou ampliação dos direitos, e não a redução.
O Enem 2024 será aplicado nos dias 3 e 10 de novembro. A redação será aplicada no primeiro dia de provas. O texto deve ser uma dissertação argumentativa com proposta de intervenção.
Pode parecer confuso, mas nesta reportagem, você saberá o que é e o que deve conter uma proposta de intervenção, e por que é preciso defender os direitos humanos no texto.
O que é uma proposta de intervenção
Todo ano, o Inep, responsável pela realização do Enem, divulga um documento chamado "Redação do Enem - Cartilha do Participante". De acordo com esse documento, "propor uma intervenção para o problema apresentado pelo tema significa sugerir uma iniciativa que busque enfrentá-lo."
Mateus Leme, professor de redação da Oficina do Estudante, diz que a ideia é que o candidato indique uma iniciativa que interfira no problema discutido ao longo de seu texto.
- Competências da redação
Ao todo, a redação vale 1000 pontos. Estes pontos podem ser alcançados pelo candidato que cumpre adequadamente com as 5 competências obrigatórias. São elas:
- Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
- Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.
- Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
- Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
- Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
Essas competências têm seus próprios elementos obrigatórios e valem 200 pontos cada. O candidato que respeitar todos estes elementos alcança a tão sonhada nota 1000.
O que uma proposta de intervenção deve ter
Ainda segundo a cartilha do participante, uma proposta de intervenção deve responder às seguintes perguntas:
- O que é possível apresentar como solução para o problema?
- Quem deve executá-la?
- Como viabilizar essa solução?
- Qual efeito ela pode alcançar?
- Que outra informação pode ser acrescentada para detalhar a proposta?
Mateus Leme explica com outras palavras:
O que são direitos humanos e como não desrespeitá-los
Além de precisar conter os cinco elementos obrigatórios, também é preciso respeitar os direitos humanos na redação para conseguir os 200 pontos da competência 5.
Por isso, segundo a cartilha do participante, o candidato não pode propor no texto:
- defesa de tortura, mutilação, execução sumária e qualquer forma de "justiça com as próprias mãos";
- incitação a qualquer tipo de violência motivada por questões de raça, etnia, gênero, credo, opinião política, condição física, origem geográfica ou socioeconômica;
- explicitação de qualquer forma de discurso de ódio (voltado contra grupos sociais específicos).
No sentido contrário, o documento considera alguns princípios norteadores dos direitos humanos. São eles:
- dignidade humana;
- igualdade de direitos;
- reconhecimento e valorização das diferenças e diversidades;
- laicidade do Estado;
- democracia na educação;
- transversalidade, vivência e globalidade;
- sustentabilidade socioambiental.
É preciso 'lacrar' para pontuar?
Os professores ouvidos pelo g1 avaliam que a redação do Enem não tem como objetivo ser "lacradora".
Felipe Leal concorda, e acrescenta que ideias como o combate à desigualdade e o respeito à dignidade são previstos em Constituição.
Portanto, não adianta usar o livro constitucional como repertório cultural e contradizer o que ele defende na proposta de intervenção.
G1