Simone se diz 'vacinada' da internet e reflete: 'Tem que comungar com a idade sem aceitar que te limite'

Aos 74 anos, cantora reflete sobre o processo de envelhecimento e a era das redes sociais Simone encerra as celebrações das cinco décadas de carreira com os shows finais da turnê Tô Voltando e uma importante reflexão sobre como lida com o envelhecimento e a era imediatista das redes sociais.

A cantora caminha para completar 75 anos no próximo Natal e destaca a aceitação como principal pilar para encarar a maturidade.

"Não tem jeito. É ter aceitação de que algumas coisas começam a ser limitadas, você não deve fazer aquilo. Não é que sua cabeça não ache possível, tudo é possível para a cabeça, mas para o físico não"

Ex-atleta de basquete, educadora física e nos palcos desde 1973, a artista reflete sobre a limitação física consequente da passagem de tempo. "Se eu nadava antes 50 metros embaixo da água, hoje, nem cinco. Não porque eu não tenha fôlego, mas eu não tenho tudo para fazer isso e também não me dediquei a isso".

"Você tem que comungar com a idade sem aceitar que ela te limite. O tempo vai te limitar de qualquer maneira ou daqui a 10 anos ou daqui há cinco anos"

De frente com a dor

Lidar com o amadurecimento de frente é o conselho que a cantora carrega desde que entendeu na prática como as dores são parte do processo.

Como exemplo, ela lembra de um episódio ocorrido há quatro anos, quando foi acometida por uma forte crise de dor nas costas, enquanto estava trabalhando, e recebeu um conselho inesquecível da fisioterapeuta Angela Cortez.

"Ela me ensinou que eu tenho que ir de encontro com a dor. Dói muito, mas você vai tentando ultrapassar o que colocou na sua cabeça, que 'até ali, não, porque dói'...'Não vou fazer, vai doer'. Então, se vai doer, faça sim. É acordar de manhã, ter uma dorzinha aqui, uma dorzinha ali, mas é desse jeito"

O tempo não para

Simone reforça a importância de fazer as pazes com o processo de envelhecimento em meio ao preconceito enraizado voltado para a incapacidade de pessoas idosas.

"O jovem também tem, todo mundo tem [dores]. Só que, quando a gente é jovem, não pensa nisso. Quando a gente tem menos futuro do que tempo, nosso futuro é muito mais curto do que uma pessoa de 20 anos, de 30, 40 e 50, a princípio, não pode botar mais caraminholas na cabeça todo dia", reflete.

"Você tem uma pessoa que bate à sua porta ou tem alguma coisa que bate assim, fala assim: 'Desista'. Não, não vou. São os obstáculos que a vida coloca. Para envelhecer, para você continuar viva, os anos vão passando"

Simone

Lorena Dini

Simples e saudável

Questionada sobre a pressão de envelhecer como figura pública, Simone reitera a autoconfiança na própria identidade, pautada em gostos simples e estilo clássico.

"Sempre fui assim, não é síndrome de Gabriela não. As coisas que eu acredito, continuo acreditando, a maneira que eu me visto é muito clássica ou então é muito simples. Gosto de jeans há 70 anos, é muito simples a maneira que eu levo a minha vida"

Mas ela admite que a disciplina no autocuidado ajuda a caminhar lado a lado com a vitalidade. "Eu sou muito disciplinada, tive a sorte de não ser gulosa, como pouco e como umas coisas bem saudáveis. Acho que isso também ajuda. Nunca fui de junk food, não gosto".

A veterana da MPB ainda faz uma confissão baseada na alimentação saudável. "Tenho até vergonha de dizer que nunca comi um cachorro quente, porque eu não gosto"

Simone

Lorena Dini

Desapegada da internet

As 37 lives musicais durante o período de isolamento da pandemia de coronavírus aproximaram Simone do universo das redes sociais, mas a cantora garante que sua relação com a internet é pautada no desapego.

"Não sou uma pessoa ligada em internet. Comecei a aprender a mexer mais no telefone celular quando comecei a fazer as lives, porque não sabia. Tive que lidar com isso, apertar o botão para gravar, pega um tablet, pega um celular e grava. Foi muito difícil essa parte"

"Sei que é difícil, principalmente para um jovem, entender, mas eu prefiro usar o tempo que tenho em outras coisas. Não tenho a sede de saber o que está acontecendo em todos os lugares do mundo com relação à música, cinema a política na mesma hora"

Ela questiona a necessidade de estar conectado a todo momento com estímulos diversos de informações. "Ficar o tempo inteiro olhando, não tenho paciência, não tenho mesmo"

"Acho que você tem que usar o aparelho e não deixar ele te usar. Conheço muita gente que é viciada, que é celular na veia, é uma coisa louca. Mas eu não, consegui até agora...Estou vacinada"

Simone ainda confirma que acompanha as redes sociais, está conectada em seus perfis, mas sem o imediatismo da geração atual. "Daqui a pouco eu vou saber, não preciso saber em um segundo. Acho que tem um foco que é diferente do meu foco", conclui.