Os outros dois gasodutos provenientes de Israel que abastecem a Faixa de Gaza estão sem funcionar desde o dia 8 de outubro, um dia após o ataque do Hamas contra cidades israelenses.
O Grupo de Água, Saneamento e Higiene (Wash), que trabalha para as Nações Unidas, calcula que o consumo médio de água por pessoa no território sitiado por Israel caiu para apenas três litros por dia, o que preocupa as organizações humanitárias.Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, são necessários, em média, 15 litros de água por dia para não sobrecarregar um rim saudável.
O escritório da ONU destaca que é preocupante a escassez de água potável somado ao consumo de água com elevado teor de sal retirada dos poços agrícolas. Devido à proximidade do mar, a água de Gaza costuma ser imprópria para consumo.
"Isto representa um risco imediato para a saúde, aumentando os níveis de hipertensão, especialmente em bebês com menos de 6 meses, mulheres grávidas e pessoas com doença renal. A utilização de águas subterrâneas salinas também aumenta o risco de diarreia e cólera", alerta o escritório das Nações Unidas.
Segundo o Ocha, os agentes de saúde têm detectado casos de varicela, sarna e diarreia, atribuíveis às más condições de saneamento e ao consumo de água de fontes inseguras. "Prevê-se que a incidência de tais doenças aumente, a menos que as instalações de água e saneamento recebam eletricidade ou combustível para retomarem as operações".
Parte da água da Faixa de Gaza usada para consumo humano é dessalinizada por equipamentos movidos à combustível. Como a ajuda humanitária que entrou em Gaza nos últimos dias não tem combustível, a falta do insumo tem dificultado a operação dessas máquinas.
Uma das três centrais de dessalinização de água do mar, localizadas em Khan Younis, retomou as operações no domingo (22) com menos de 7% da sua capacidade. Segundo a Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), isso foi possível após uma redistribuição de combustível de entre unidades da ONU. "As outras duas fábricas permanecem inoperantes", informa o boletim.
No dia 12 de outubro, o ministro de Energia e Infraestruturas de Israel, Israel Katz, justificou o corte de energia e água de Gaza como forma de forçar o Hamas a libertar os cerca de 220 reféns feitos pelo grupo. Após acordo para liberar a entrada de água no sul de Gaza, o ministro justificou que o restabelecimento parcial de água no sul seria importante para forçar o descolamento da população civil para o sul da Faixa.
Além da escassez de água, os palestinos da Faixa de Gaza enfrentam longas filas para conseguir pão das padarias locais. Apenas cinco das 24 padarias contratadas com o Programa Alimentar Mundial (PAM) estão operando e fornecem pão aos abrigos com refugiados.
"A escassez de combustível é o principal obstáculo que impede essas padarias de satisfazer a procura local de pão fresco, colocando-as em risco de encerramento. As padarias estão em dificuldades, com longas filas se formando antes do amanhecer. O tempo médio de espera é de 6 horas, e as pessoas suportam essa espera para receber metade da porção normal", informa o Ocha.
O brasileiro Hasan Rabee, de 30 anos de idade, registrou nesta terça-feira uma das enormes filas que se formaram em uma das padarias da cidade de Khan Yunes. "Filas e filas só para pegar um pouco de pão, que horror", relata o palestino naturalizado brasileiro. Rabee diz que a família dele tem água potável e alimentos para mais 2 dias. Na semana passada, ele recebeu mantimentos enviados pelo Escritório de Representação do Brasil, em Ramala, na Cisjordânia.
Hasan é um dos 32 brasileiros que aguardam a possibilidade de deixar a Faixa de Gaza. Ele foi à Palestina visitar a família poucos dias antes do início das hostilidades entre Israel e Hamas. Ele está com a esposa e duas filhas pequenas também brasileiras.
Estima-se que existam 1,4 milhão de deslocados internos em Gaza, com cerca de 600.000 abrigados em 150 abrigos de emergência designados pela UNRWA.
A Agência Brasil questionou a Embaixada de Israel no Brasil o motivo da redução de 20% da água disponibilizada à Faixa de Gaza e aguarda retorno.
Fonte: Agência Brasil