O Ministério Público Federal promoveu uma reunião estratégica com representantes das Secretarias da Saúde do Estado de Alagoas (Sesau), do Município de Maceió (SMS) e do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Alagoas (Cosems/AL) para abordar as ações de enfrentamento do surto de meningite que vem afetando, especialmente, a capital alagoana, Maceió.
Durante o encontro, a SMS de Maceió detalhou que está empenhada em capacitar profissionais de saúde para agilizar o diagnóstico da doença, conscientizar a população e realizar a quimioprofilaxia, um processo que envolve a identificação de indivíduos suspeitos de portarem a bactéria causadora da meningite e as pessoas próximas a eles, seguido de tratamento com um antibiótico específico, tudo em um prazo de até 48 horas.
Os especialistas da Sesau e da SMS compartilharam do posicionamento do Ministério da Saúde, apresentado ao MPF durante reunião anterior, na quinta-feira (14), de que a eficácia da incorporação, na rede pública, da vacina contra meningite do tipo B como medida emergencial para conter a eficácia do surto em Alagoas depende de maiores evidências.
De toda forma, há uma concordância geral dos especialistas no sentido de que as medidas planejadas por Estado e município, como a adoção de fluxos específicos para o tratamento de casos suspeitos, a quimioprofilaxia e a conscientização da população sobre a importância da manutenção das vacinas infantis em dia são capazes de manter o aumento do número de casos de meningite sob controle.
Quimioprofilaxia – A Sesau esclareceu que dispõe de dois serviços em vigilância ativa. Ocorre a busca ativa nas unidades hospitalares e pré-hospitalares (UPA e UBS). Diante do caso suspeito as médicas infectologistas avaliam e em seguida é feita a quimioprofilaxia, seja escola, creche, abrigo, qualquer dia da semana, em até 48 horas, mesmo em municípios do interior do Estado.
Medidas – A SMS revelou que seu planejamento envolve a antecipação da multivacinação – em busca de atualização da caderneta de vacinação de crianças e adolescentes –, cuja campanha será nacional, mas será ampliada e antecipada em Maceió. Outra medida destacada é a busca ativa em áreas vulneráveis da capital, como as grotas, com o objetivo de verificar a situação vacinal das crianças e adolescentes, conscientizá-los e oferecer a atualização das vacinas disponíveis na rede pública.
Lacen – O Laboratório de Biologia Molecular de Alagoas, o Lacen, tem sido o responsável pelos diagnósticos em até 24 horas, o que tem sido primordial na adoção das medidas de quimioprofilaxia. A eficiência do Lacen, inclusive, contribuiu para que a situação de surto pudesse ser identificada no estado, o que não era possível no passado quando as amostras dependiam de análise de outros laboratórios.
Pelo técnico do laboratório foi explicado que poucos estados estão acompanhando tão de perto a incidência da meningite como em Alagoas, isso porque não é fácil ter a amostra, via coleta e cultura, pois a cultura pode ser inviabilizada no momento em que se inicia o tratamento, o que ocorre imediatamente ao diagnóstico, ou mera suspeita.
Leitos – A Sesau assegurou que, até o momento, não há risco de falta de leitos, pois os hospitais que estão recebendo casos suspeitos contam com áreas de isolamento. Os hospitais incluem o Hospital Geral do Estado (HGE), o Hospital Escola Dr. Hélvio Auto de Doenças Tropicais (HDT), que atendem adultos e crianças, e o Hospital da Criança, que possui leitos de UTI pediátrica, caso necessário.
O MPF destacou a preocupação com a incidência e a possível subnotificação de casos nos municípios do interior do estado, sendo proposto a elaboração de um cronograma de treinamento numa articulação entre Cosems e Sesau.
Encaminhamentos – Para concluir, ficou acordado que, dentro de um prazo de 10 dias, as seguintes ações serão adotadas:
SMS e Sesau encaminharão ao MPF a cópia do microplanejamento da campanha de multivacinação;
SMS encaminhará o plano de conscientização da campanha de conscientização com profissionais de saúde e com a sociedade;
Sesau, quando da publicação de boletins semanais, deve incluir o MPF entre os destinatários finais do documento;
Sesau deve informar se houver retomada da Sala de Situação para enfrentamento do surto de meningite, com informes periódicos das deliberações e encaminhamentos ao MPF, e considerar a inclusão da instituição, como ocorria no período da pandemia;
Sesau também deve apresentar o planejamento de capacitação para os municípios do interior, em articulação com o Cosems.
O MPF informou que notificará o Ministério da Saúde sobre a necessidade de disponibilizar informações em tempo real sobre a vacinação, fornecer insumos para o Lacen e apresentar o relatório final da investigação atual do surto, que foi apresentado na sexta-feira (15), mas não foi entregue à SMS e à Sesau.
Entenda – Até o momento, só no ano de 2023, já são 64 casos de meningite, sendo 29 casos de meningocócica, sendo 27 em Maceió, 1 em Atalaia e 1 em São Luiz do Quitunde, destes 11 vieram a óbito, todos da capital. Dos 29 casos, 18 são do sorogrupo B, nenhum do sorogrupo C, 7 casos não foram identificados e 4 estão aguardando resultado de sorogrupo.
É importante ressaltar que a vacinação continua sendo a principal forma de prevenção da meningite meningocócica. Todos os casos identificados em Alagoas ocorreram em pessoas não vacinadas contra a meningite B, com exceção de uma pessoa com esquema vacinal incompleto. Atualmente, a vacina está disponível apenas na rede privada de saúde, sem previsão de fornecimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Os bairros mais afetados pela meningite em Maceió são Jacintinho e Benedito Bentes, onde aglomerações e vulnerabilidade social aumentam o risco de transmissão da doença, especialmente em um contexto de baixa cobertura vacinal, redução de medidas de distanciamento e período de chuvas.
Ascom MPF